A ceratite por Acanthamoeba (AK) é uma infeção grave e muitas vezes refractária da córnea, frequentemente associada ao uso de lentes de contacto durante a natação ou à lavagem das lentes com água da torneira. Apesar da terapia médica intensiva, muitos casos não se resolvem devido à forma cística altamente resistente do parasita, que pode persistir no estroma da córnea. Um relato de caso publicado recentemente em Olho e visão por Hafezi et al. explora uma nova abordagem de tratamento: cromóforo duplo fotoactivado para reticulação ceratite-córnea (PACK-CXL) na mesma sessão, utilizando riboflavina/UV-A e rosa bengala/luz verde.

Superar os desafios do tratamento das QA

O PACK-CXL convencional com riboflavina e UV-A provou ser eficaz na queratite bacteriana e fúngica, mas não demonstrou um sucesso consistente no tratamento da QA. Da mesma forma, o PACK-CXL de rosa bengala/luz verde mostrou-se promissor em infecções fúngicas, mas não foi suficiente contra a Acanthamoeba. Reconhecendo esta limitação, o Instituto ELZA investigou uma abordagem combinada utilizando ambos os cromóforos num único procedimento.

As QA apresentam desafios únicos devido à capacidade do parasita de existir numa forma cística, que é altamente resistente à terapia antimicrobiana padrão. A necessidade de tratamento prolongado com múltiplos agentes antimicrobianos aumenta o risco de cicatrização da córnea e de deficiência visual. Por conseguinte, o desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes, como o PACK-CXL com duplo cromóforo, é fundamental para melhorar os resultados dos doentes com infecções recalcitrantes.

Estudo de caso: Uma abordagem sequencial na mesma sessão

No caso relatado, um doente de 44 anos com QA que não respondeu a 10 meses de terapia padrão foi submetido a três procedimentos PACK-CXL na mesma sessão no Instituto ELZA. O protocolo envolveu a aplicação sequencial de riboflavina/UV-A (365 nm, 10 J/cm2) seguida de irradiação de rosa bengala/luz verde (522 nm, 5,4 J/cm2). Após três tratamentos, a infeção foi erradicada e a córnea estabilizada, embora tenha sido necessária uma ceratoplastia penetrante para a reabilitação visual.

Ao longo do tratamento, o doente registou uma melhoria clínica progressiva. Após a segunda sessão de PACK-CXL, os sinais de infeção ativa diminuíram significativamente, com redução da dor ocular, fotofobia e epífora. A microscopia confocal confirmou a ausência de quistos de Acanthamoeba viáveis após a última sessão de tratamento, apoiando a eficácia da abordagem de cromóforo duplo na eliminação da infeção.

Um novo paradigma de tratamento?

Este caso sugere que a combinação de dois cromóforos com propriedades fotoquímicas distintas pode aumentar a eficácia do PACK-CXL no tratamento das QA. A aplicação sequencial permite que cada cromóforo exerça o seu efeito sem interferência, conduzindo potencialmente a uma melhor erradicação dos agentes patogénicos e ao fortalecimento do estroma. Os espectros de absorção únicos da riboflavina e da rosa de bengala garantem que os cromóforos não competem pela energia, maximizando a resposta fotoquímica no tecido da córnea.

Além disso, esta nova abordagem poderá ter implicações mais alargadas no tratamento da queratite infecciosa grave e resistente ao tratamento. Ao reforçar o estroma da córnea e, simultaneamente, exercer efeitos antimicrobianos, o PACK-CXL com cromóforo duplo pode constituir um complemento valioso à terapia antimicrobiana convencional. Estudos futuros devem estabelecer protocolos de tratamento padronizados e avaliar os resultados a longo prazo em grupos de pacientes maiores.

Embora seja necessária mais investigação clínica, esta abordagem inovadora pode oferecer uma opção viável para casos de QA refractários. A erradicação bem sucedida da infeção neste doente realça o potencial do PACK-CXL com duplo cromóforo como uma modalidade terapêutica emergente para infecções da córnea difíceis.

Cromóforo duplo PACK-CXL

Referência: Hafezi F, Messerli J, Torres-Netto EA, et al. Cromóforo duplo riboflavina/UV-A e rosa bengala/luz verde PACK-CXL na mesma sessão na queratite por Acanthamoeba: relato de um caso. Olho e Vis. 2025;12(1):2. Ligação PubMed.